sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Da constipação à pneumonia


O que provoca as infecções respiratórias?
O grande número de doenças que ocorre com maior frequência durante os meses frios (constipações, laringites, bronquites e mesmo pneumonias) é, na maioria, provocada por vírus. Muitos pais desconfiam dos médicos quando estes lhes dizem que o seu filho, que desde há três dias tem uma febre baixa, secreções no nariz e recusa alimentar-se, tem apenas uma virose.«Quando não sabem o que é, dizem que é uma virose» é um comentário que se ouve com frequência nas salas de espera dos serviços de urgência pediátricos. Na verdade, é um facto que a grande maioria das infecções do aparelho respiratório é provocada por vírus (viroses) e não originam sintomas muito particulares ou graves. Apesar do seu curso habitualmente inocente, algumas crianças podem evoluir de forma menos agradável. Isto acontece quando as secreções ficam muito tempo acumuladas e acabam por ser infectadas por uma bactéria. Neste caso as secreções tornam-se mais espessas e mudam de transparentes para amareladas ou esverdeadas e uma febre alta pode aparecer.

Como se manifestam as infecções respiratórias mais frequentes?
As infecções respiratórias mais frequentes, como a vulgar constipação, manifestam-se habitualmente por:.
-febre baixa, que facilmente desaparece com o uso de antipiréticos;
-secreções no nariz líquidas e transparentes;
-tosse seca ou com uma pequena quantidade de secreções. Estas secreções são habitualmente secreções do nariz que deslizaram até à garganta e a tosse é um mecanismo fundamental para a sua remoção mantendo as vias aéreas desobstruídas;
-Por vezes a tosse é uma tosse rouca, irritativa, que surge por ataques e a que muitas vezes se chama tosse «de cão». A sua causa é uma infecção viral da laringe, geralmente sem consequências;
Habitualmente, estas crianças brincam normalmente, estão bem dispostas, comem razoavelmente e, principalmente, não parecem doentes.

O que se pode fazer nas infecções respiratórias mais frequentes e leves?
Os cuidados que os pais podem ter em casa são iguais ao de todas as outras situações de infecção das vias respiratórias, e incluem:
-Remover as secreções acumuladas no nariz, com a ajuda de soro fisiológico ou um spray de água do mar e de um aspirador próprio para o nariz.
Não conheço nenhuma criança que goste desta tarefa, mas os pais devem ter a persistência necessária e não desistir ao primeiro choro. Por vezes são necessárias duas pessoas para conseguir concluir com êxito esta empreitada;
-Manter a criança hidratada, através da ingestão de líquidos, ajuda a tornar as secreções mais fluidas e facilita a sua remoção;
-Desobstruir o nariz, com a ajuda de umas gotas vasoconstritoras nasais. Atenção que existem gotas para crianças e gotas para adultos. Se em casa apenas existirem gotas para adultos podem ser diluídas com soro fisiológico antes de serem aplicadas na criança. Este tipo de medicação não deve ser usado com muita frequência (máximo de três vezes por dia) nem durante períodos prolongados (máximo de três dias);.
-Baixar a febre, se existir, o que é pouco frequente. Usar sempre como primeira linha de ataque o paracetamol. Nada de aspirinas ou semelhantes, pois podem ter efeitos secundários graves nas crianças;.Habitualmente, não é necessário a criança tomar antibiótico.

Quando suspeitar que algo evolui mal?
Apesar da maioria da situações não exigir grandes cuidados, é necessário estar atento ao aparecimento de alguns «sinais de alarme» que podem significar que a doença é mais grave ou que se tornou, com o passar do tempo, mais grave. Ou porque a infecção «foi descendo» ao longo das vias respiratórias até atingir os brônquios e pulmões, ou porque entretanto surgiu uma infecção por uma bactéria. De uma forma geral a criança deve ser observada pelo pediatra sempre que:.tem um aspecto doente;.não quer brincar;.não consegue dormir à noite;.tem febre alta;.a febre se mantém por mais de cinco dias;.tem vómitos persistentes;.recusa alimentar-se;.tem dificuldade em respirar ou pieira;.tem dores no ouvido;.as secreções tornaram-se espessas e esverdeadas;.a tosse se agrava de dia para dia ou se se mantém por mais de 10 dias; .os pais tiverem dúvidas sobre a gravidade da situação. Fale com o pediatra da criança e esclareça com ele todas as suas dúvidas. Não deixe que o medo ou a insegurança tomem conta de si.

O que é uma pneumonia?
Numa pneumonia a infecção deixa de estar apenas nas vias respiratórias, como os brônquios, para passar para os pulmões da criança. Como nas outras infecções respiratórias, a maioria das pneumonias é provocada por vírus e só em alguns casos existe infecção por bactérias. Muitas vezes tudo se instala de forma gradual, começando como uma constipação que se vai agravando ao longo de dias. A partir de determinada altura começam com febre, que pode ser alta e tosse com expectoração. A criança tem um ar doente, recusa alimentar-se ou tem mesmo vómitos e dores de barriga. Nos casos mais graves a criança sente-se cansada ou tem uma sensação de «falta de ar». O diagnóstico certo só pode ser dado pelo médico depois de auscultar a criança.

Que exames deve fazer uma criança com uma pneumonia?
Habitualmente basta a observação pelo médico. Nos casos em que existirem dúvidas, ou em que se suspeite de uma maior gravidade, a criança pode necessitar de fazer uma radiografia de tórax ou análises ao sangue.

Como se trata uma pneumonia?
Como a maioria das pneumonias tem uma causa viral, o seu tratamento consiste em baixar a febre com o paracetamol e hidratar a criança, tal como já falámos atrás. Só se existir evidência clínica de que a criança tem uma infecção bacteriana se justifica o tratamento com antibióticos. O uso de antibióticos indiscriminadamente e sem justificação, para além de não ajudar à resolução da doença pode ajudar as bactérias a criarem resistências. Significa isto que mais tarde, quando a criança efectivamente precisar de tomar um antibiótico este pode já não ser eficaz e a doença ser mais complicada. Esta atitude implica que os pais vêem muitas vezes a sua capacidade de resistência ser posta à prova, mas a noção de que o antibiótico não é a “droga milagrosa” que tudo resolve pode ajudar a ultrapassar a situação. É muito importante que conversem com o vosso pediatra sobre todos estes assuntos para que se sintam mais confiantes. Nos casos em que se suspeita da presença de uma bactéria (os casos mais graves) a criança precisa de tomar um antibiótico durante 10 dias. Ao fim de 48 horas a criança deve sentir-se melhor e deixar de ter febre. Caso isto não aconteça deve ser de novo observada pelo pediatra.Os medicamentos para a tosse devem ser usados com muito cuidado. A tosse é um mecanismo protector e nem sempre deve ser suprimida. Sem a tosse as secreções podem acumular-se nas vias respiratórias e a criança ficar com dificuldade respiratória ou mesmo uma infecção mais grave. Os pais não devem dar «xaropes para a tosse» sem antes contactarem o Pediatra da criança, principalmente nas crianças com menos de dois anos.

Quando é que a criança tem de ser internada no hospital?
Em alguns casos, felizmente cada vez mais raros, as crianças com uma pneumonia têm de ser internadas num hospital. São os casos de crianças com:.Idade inferior a seis meses;.Vómitos frequentes (não conseguem tomar o antibiótico em casa);.Apresentam sinais de desidratação;.Apresentam recusa alimentar;.Têm um «ar doente»;.Têm dificuldade em respirar;.Não melhoram em casa, mesmo a tomar o antibiótico correctamente;.Têm uma doença crónica, dos pulmões ou do coração;.Têm vários episódios de pneumonia num curto espaço de tempo

A criança está condenada a estar sempre doente no Inverno?
Nos meses frios, a criança entra em contacto com um grande número de vírus, e à medida que apanha cada um deles, cria defesas apenas para esse vírus mas continua susceptível para apanhar qualquer um dos outros. Estando na escola, em contacto com muitas outras crianças, infectadas com vírus diferentes, não é estranho que isso aconteça e que o problema possa persistir durante largos períodos durante o Outono e Inverno. A boa notícia é que a criança vai desenvolvendo resistências contra os diferentes vírus e o ano seguinte será certamente mais tranquilo.

As doenças respiratórias podem ser prevenidas?
Vejamos algumas regras simples que podem ajudar a diminuir a incidência das infecções respiratórias:
-Proteja o seu filho do frio. Utilize a roupa e agasalhos suficientes e adequados à temperatura ambiente;.
-Não exponha o seu filho ao mau tempo. Se lá fora está um vendaval, e se possível, adie a saída de casa para uma melhor altura;
-Evite colocar o seu filho em locais fechados na presença de muitas pessoas (crianças ou adultos) pois é principalmente nestes que se faz a transmissão dos vírus respiratórios;.Se possível, evite o contacto do seu filho com crianças ou adultos doentes. Por vezes é impossível, principalmente quando os adultos doentes são os pais e as crianças engripadas os irmãos;
-Se possível, não deixe o seu filho em instituições que mantêm muitas crianças em contacto umas com as outras em salas fechadas, como infantários ou creches superlotados. No primeiro ano de vida (e de preferência nos dois primeiros anos) o lugar do bebé deve ser em casa (dos pais, avós ou de uma ama que cuide de poucas crianças). Infelizmente, isto nem sempre é viável;
-Algumas crianças têm uma maior tendência para adoecerem, como é o caso das crianças com asma, fibrose quística, diabetes ou das portadoras de trissomia 21 (Síndrome de Down). Fale com o seu pediatra sobre este assunto de modo a prevenir as infecções virais eficazmente;
Se o seu filho é dado a este tipo de doenças, e principalmente se no Inverno anterior esteve muitas vezes doente, o seu pediatra pode querer que ele faça uma vacina especial antes do início da época fria de modo a ajudar o seu sistema de defesa a combater este tipo de infecções.


Fonte: revista Pais&Filhos

2 comentários:

  1. Obrigada por este post. Quando o Manuel está constipado eu morro de pavor que evolua para pneumonia... O Martim não está com pneumonia, ou está? Se sim, as melhoras para ele. Mas espero que não! Bjs

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  2. :)

    Muito útil!!!

    Os meus não se constipam muito e o bebequinho ainda não se constipou hehe, mas é sempre bom saber onde existe a informação :)

    Muitas beijocas a todos!!

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